Nas últimas décadas, a Odontologia vem evoluindo muito, mas ainda estamos engatinhando quando o assunto é Promoção de Saúde e prevenção.
Quando me formei em 1988 estava determinada a fazer uma odontologia voltada para prevenção, mas logo no primeiro ano de formada percebi que não seria uma tarefa fácil, pois motivar os pacientes a mudarem hábitos de higiene bucal e de alimentação estava sendo mais difícil do que fazer um canal ou uma restauração.
Depois de algum tempo e muitas tentativas frustradas, tentando motivar os pacientes e observando que mesmo depois de todos os meus esforços em educar e motivar, muitos não retornavam para o “controle”, fui buscar na literatura algumas respostas, e a conclusão que tive depois de pesquisar sobre o assunto é que tudo se resumia em falha de comunicação. A minha abordagem não estava sendo efetiva.
A comunicação passa por todas as ações de relacionamento: antes, durante e depois dos serviços prestados e é fundamental, principalmente, nos dias de hoje em um mercado altamente competitivo. Essa correta comunicação é importante também para você motivar e se relacionar com a sua equipe de trabalho.
É importante a equipe de trabalho entender que o paciente não pode iniciar um tratamento curativo, sem antes passar pelas consultas de prevenção. Primeiro precisamos educar, e com isso, motivar os pacientes a mudarem hábitos.
Muitos programas de promoção de saúde falham pela dificuldade de comunicação e por inabilidade do profissional que não consegue adequar a sua linguagem para transmitir as informações necessárias que irão motivar os seus pacientes a mudarem hábitos de higiene bucal e de alimentação que são indispensáveis para restabelecer e manter a sua saúde bucal.
Ao longo de 27 anos de clinica visando promoção de saúde e prevenção, aprendi que:
- Foi-se o tempo em que ter o conhecimento técnico-científico era o suficiente. Temos que investir em outros conhecimentos, como psicologia e comunicação.
- É possível sim, o paciente não ter mais cáries e doença periodontal e ainda assim, ganhar dinheiro, pois com a manutenção preventiva, cria-se um faturamento recorrente e crescente e ele está sempre te indicando novos pacientes.
- Motivação necessita de recargas contínuas e precisa ser constante.
- Quanto mais informação os pacientes recebem, mas motivados eles ficam.
- Mesmo que o paciente seja leigo, se você explicar de forma simples, ele entende, por exemplo, o que é periodontite e periimplantite.
- Quanto mais imagens mostrarmos, mais ele assimila o que falamos, afinal dentre os canais de percepção que nós temos, o visual é o predominante.
- O paciente “compra” prevenção.
- Se passo o meu plano de tratamento após as consultas de prevenção, ele aprova em 99% das vezes, pois vê valor agregado ao tratamento.
- Se convido a família para assistir à consulta de prevenção, na qual ele recebe uma “aula”, a maioria marca uma consulta depois.
- Ter como diferencial a filosofia preventiva é sinônimo de fidelizar, atrair e manter pacientes.
- É importante estar sempre se atualizando, mas o que os pacientes mais dão valor é o cuidado e atenção que você tem com ele e que raramente ele irá te perguntar quantos cursos você já fez .
- O envolvimento da equipe é fundamental para o sucesso do programa de promoção de saúde.
Assim, o que importa realmente para o paciente é a forma com que ele é tratado por você e sua equipe. Ele quer se sentir especial, acolhido e perceber que a sua maior preocupação e de sua equipe é com a sua saúde, seu bem estar e sua qualidade de vida.
Espero que este artigo também tenha servido para que você possa refletir sobre que tipo de odontologia você vem praticando: uma odontologia curativa ou uma odontologia preocupada em promover saúde? Sempre é tempo de mudar, seguir novos rumos e perceber a verdadeira essência dessa profissão maravilhosa que é ser dentista!
Graduada em Odontologia em 1988 pela Universidade de São Paulo, Dra.Cristiane Tavares é
Clinica Geral e Presidente da Associação dos Voluntários do Sorriso ( www.voluntariosdosorriso.org.br)